Corrosão, sublimação

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O título do novo filme do diretor francês Jacques Audiard, “Ferrugem e Osso”, possui mais de uma referência às relações que se estabelecem na tela. Do romance que se desenvolve entre os protagonistas, interpretados por Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts, podemos tirar a alusão física, já que a personagem da atriz passa a utilizar pernas de metal após um grave acidente em seu trabalho como treinadora de baleias, e o do ator, ao se tornar um lutador, passa a depender mais que nunca da força de seus ossos. Pode-se ainda inferir sobre a relação entre elementos de origens distintas na natureza, mas que têm em comum a propriedade da resistência. Há também, e aí provavelmente reside o significado mais forte do título, a relação que os personagens têm com seus próprios dramas. São pessoas que passam por um severo processo de superação física e emocional. Ela por ter que recomeçar a vida após o acidente, reaprender toda uma rotina que inclui necessidades básicas (e aí o sexo têm um papel essencial, claro). Ele por ter que amadurecer e criar o filho sozinho. Os dois precisam se reabilitar. Audiard (de filmes como “O Profeta” e “De Tanto Bater Meu Coração Parou”) narra essa história com sensibilidade visual, criando momentos de pura poesia, como aquela que desde já é uma das grandes cenas do ano, em que Cotillard fica frente a frente com uma baleia diante do imenso vidro do aquário. O cineasta também faz bem em investir nos silêncios. Não é um filme que se destaca pelos diálogos. Não só os olhares preenchem esses supostos vazios, mas também os momentos em que o diretor não mostra ou se distancia de eventos que já são fortes apenas pela sugestão. O seu posicionamento narrativo afasta o filme do melodrama, o que era fundamental para uma história atravessada pela tragédia. ■