CineOP 2016: Cinco filmes em destaque sobre a Abertura Política

Eu conversei com o curador da temática Histórica da 11ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, Francis Vogner dos Reis, para o Cinefonia, na Rádio Inconfidência. Por limitações de tempo, a entrevista completa não pôde ser veiculada. Mas transcrevo aqui a fala integral em que ele destaca cinco filmes dentro da seleção feita para discutir o tema central da mostra, a Abertura Política no Brasil, entre 1976 e 1985.

Eles Não Usam Black Tie (1981)

Eles Não Usam Black Tie (1981), dir.: Leon Hirszman



“É um filme que data do início dos anos 80, período da abertura política. É uma peça [escrita por Gianfrancesco Guarnieri duas décadas antes] sobre greve, sobre conflito de classes. Mas o interessante dessa releitura, dessa atualização dos anos 80, é confrontar esse período político no momento em que esse novo sindicalismo forçava os limites da abertura política. É interessante também porque o filme do Hirszman tem uma compreensão desse momento histórico, tenta entender como é a geração que cresceu durante a ditadura e que, naquele momento, no início dos anos 80, estava começando a tomar o protagonismo na vida política, Então, o personagem emblemático é o Tião (Carlos Alberto Ricelli), que é um personagem pragmático, individualista, ou seja, o Brasil que começava ali, no fim da ditadura, que seria protagonizado, isso na visão do Hirszman, por uma geração que sofreu durante a ditadura e que é a face acabada do pragmatismo que, a partir de então, se tornou uma certa tônica política da vida social brasileira.”

A Próxima Vítima (1983)

A Próxima Vítima (1983), dir.: João Batista de Andrade

“É uma espécie de filme-testemunho também do pragmatismo, também dos anos 80 e da própria abertura política no sentido de que o filme se passa durante as primeiras eleições para governador pós-anistia. Então, a gente tem ali, filmado de uma maneira quase documental, as próprias movimentações dessas eleições, que inclusive foi a primeira que no qual o PT concorreu a um cargo, no caso ao governo do Estado de São Paulo, onde o candidato era o Lula. É um filme de testemunho histórico. É uma ficção, mas tem toda uma forma e um tom documental, então é um filme que lida com a realidade daquele momento.”

Extremos do Prazer (1983)Extremos do Prazer (1983), dir.: Carlos Reichenbach

“É um filme pouco conhecido, mas muito importante, que tenta ver esse período [da abertura política] da perspectiva da cultura. E é também um filme que coloca em conflito personagens que vieram dos anos 60 e 70, até um pouco fantasmáticos, com o novo conservadorismo dos anos 80, como no filme do Hirszman, de uma geração que cresceu na ditadura, fruto do milagre econômico brasileiro. É um grande filme do Carlos Reichenbach e muito pouco visto. Talvez seja a primeira vez que esse filme passe em Minas nos últimos 30 anos. Então, é realmente uma raridade.”

Superoutro (1988)Superoutro (1988), dir.: Edgar Navarro

“É quase um ponto fora da curva na programação, mas ele tem motivos para estar na mostra. Ele é realizado no fim dos anos 80, Navarro é um cineasta que até então fez uma carreira muito da contracultura. Tanto o filme quanto o protagonista são a radical dissonância desse período histórico. Na impossibilidade, nessa pragmática, uma época em que há inércia. O personagem, na impossibilidade de uma rebelião consciente organizada, ele tem a loucura como o avesso total dos pragmáticos anos 80. Então é um filme, digamos assim, quase fora da curva, mas que tem uma agressão muito saudável, mais direta, a esse período. É um filme bastante transgressor. Talvez o grande filme brasileiro transgressor dos anos 80.”

Festa (1989)

Festa (1989), dir.: Ugo Giorgetti

“É uma alegoria sobre a Nova República. Ele concebe a Nova República como uma democracia apartada e com uma promessa nunca realizada de participação de todos nessa festa da Nova República. É o segundo longa do Giorgetti e que lida de uma maneira muito direta com esse período. Resumindo um pouco a programação da temática histórica, a gente procurou várias perspectivas desse momento histórico. Digamos assim, seriam as perspectivas que tratariam mais diretamente do tema da abertura política, mas que tentariam entender as tonalidades e dissonâncias da vivência e da crítica a esse momento histórico. São filmes que, diferentemente do que vemos hoje, são filmes de um momento em que os artistas, os cineastas, o próprio cinema brasileiro conseguia responder mais diretamente à realidade de uma maneira mais imediata. Esses filmes têm um corpo a corpo com o momento histórico que, hoje em dia, é difícil de vermos. Hoje em dia, poucos filmes lidam com seu tempo de maneira tão direta e tão intensa, porque demora-se mais para fazer os filmes, se um cineasta começa um filme agora vai terminar cinco anos depois. Então, esses filmes têm esse corpo a corpo com a história que me parece muito saudável para a arte de qualquer tempo. Uma resposta mais ou menos imediata.”

Toda a programação da CineOP é gratuita e a mostra vai até o dia 27 de junho. Consulte os horários das exibições aqui. ■